Poluição: sonora e luminosa. O que são e quais os impactes?


Ao longo do último século o termo poluição é comum e é um conceito conhecido por todos – um efeito causado pelo homem que desequilibra o meio ambiente, tendo graves consequências para o planeta e os seus habitantes.

Na grande maioria, e o que é mais notório e visível, a conhecida poluição tende a ser definida pela poluição da atmosfera (gases do efeito estufa), dos solos (contaminantes provenientes, por exemplo, da agricultura), poluição hídrica (substâncias solidas e líquidas nas águas subterrâneas, oceanos, rios, entre outros).

Para além desses tipos de poluição, existe a poluição radioativa (contaminantes radioativos como urânio e plutónio), a poluição visual (excesso de informação visual em cartazes, postes, fios de eletricidade) e a poluição térmica (devido a, por exemplo, centrais elétricas ou nucleares, que aquecem águas naturais).

Apesar da extrema importância de cada uma delas, existem outros dois tipos de poluição cujos impactes ambientais são enormes e, infelizmente, menosprezados – a poluição sonora e a poluição luminosa

Eventos marcantes como a revolução industrial, a implementação da eletricidade a nível global, o crescimento de grandes centros urbanos e grandes cidades terão sido causas responsáveis destas poluições preocupantes.

Poluição Sonora

A poluição sonora não deixa resíduos ou vestígios – só consequências. Esta não é definida apenas em decibéis de som, mas também nas vibrações que acarretam essa movimentação de partículas de ar.

A exposição prolongada a este poluente pode trazer efeitos crónicos e irreversíveis. Nos humanos, onde este efeito é mais estudado e cuja existência é regulamentada, há provas notórias de problemas cardíacos, altos níveis de colesterol e hormonais, stress, distúrbios de sono e memória, propensão a perturbações psíquicas e até tendência ao suicídio.

A OMS estima que, na Europa, morram prematuramente desta forma de poluição 10 000 pessoas por ano. Os transportes, indústrias, centros urbanos, exploração mineira, obras, atividade marítima, concertos ao ar livre são exemplos de formas de poluição sonora.

Desta forma, porque é que o efeito será diferente nos animais?

Um dos mais conhecidos exemplos são os cetáceos (golfinhos, cachalotes, baleias). Estes animais utilizam a ecolocalização, que consiste em detetar a sua posição através da emissão de ondas ultrassónicas na água como os sonares dos barcos que medem a profundidade.

Este mecanismo é utilizado por alguns mamíferos, como os morcegos e algumas aves. A capacidade de manter funções vitais, alimentação, comunicação, migração e reprodução são altamente afetadas pelo ruído.

Não precisamos de ir tão longe para perceber que a paz dos animais marinhos está em risco. O nível de stress (medido pelos níveis da hormona cortisol) dos peixes encontra-se cada vez mais alto e afeta a cadeia alimentar. Outro animal afetado é a lula, cuja capacidade de flutuar depende da sua audição.

O tráfego marinho no mediterrâneo produz 30% do volume de ruido sonoro. Outros eventos como exploração petrolífera e atividades militares são fontes emissoras de ruido, que deixariam qualquer humano surdo debaixo de água. Dado a um conjunto de fatores físicos e químicos, o som propaga-se mais rápido e a maiores distâncias na água – tendo um maior impacto.

O ar não parece ser influenciado de forma tão nefasta como a água, no entanto, as consequências são igualmente preocupantes.

O ruído e vibração do ar causado, por exemplo, pelas pás das turbinas eólicas e pelas autoestradas desorientam os animais (maioritariamente aves e morcegos), reduzem a sua capacidade de caça e de proteção de predadores, provocam alteração do “home range”/área de vida dos animais, bem como a reprodução e alterações fisiológicas e comportamentais e, muitas vezes, provocam a morte indireta dos animais por colisão.

A competição intra e interespecífica é afetada, afetando diretamente a adaptação e evolução das espécies. As aves de rapina são um exemplo que utiliza atividade vocal para inúmeras das suas atividades, sendo altamente prejudicadas. Outro exemplo são as rãs arbóreas, cujo stress e imunossupressão são aumentados pelo ruido e a vibração inadequada do seu saco vocal, afetando a seleção natural e a mortalidade nos machos – que utilizam este chamamento para a atração das fêmeas.

Pelo menos 19% da área protegida pela rede Natura 2000 sofre de excesso de ruído, por outras palavras: poluição sonora. Até hoje, este problema é pouco estudado – sobretudo o impacte ambiental. Os dados são escassos e as medidas e tentativas de implementação de mudança de alguns destes fatores ainda não teve uma melhoria significativa que reduza os riscos e consequências deste tipo de poluição.

Poluição Luminosa

A poluição luminosa provém, não só da iluminação interior de edifícios, mas sobretudo do errado posicionamento e utilização de candeeiros e holofotes exteriores, que contam ser cerca de 300 milhões no mundo. Estes provocam uma iluminação e alcance excessivo, que tem efeitos nefastos nas plantas, animais e humanos. Essa incorreta utilização aumenta significativamente o consumo energético e contribui para a degradação do meio ambiente, consumo de combustíveis fósseis e energias renováveis.

Sabias que 2/3 dos norte-americanos e metade dos europeus não conseguem visualizar a via láctea, devido à luz emanada pelas cidades?

Infelizmente, este tipo de poluição afeta muito mais do que a nossa capacidade de ver as estrelas. Embora a noite seja um perigo para muitos animais, é também utilizada muitas vezes para migrações, reprodução e alimentação, num ambiente sem o calor do sol e sem a competição de várias outras espécies.

Para além disso, existe um vasto número de espécies que utilizam os astros como orientação. Exemplos são as focas, formigas, besouros, aves, morcegos e traças. Cerca de 30% de vertebrados noturnos são afetados por esta poluição e cerca de 60% dos invertebrados.

E para além da orientação? Como é que os animais são afetados?

As luzes artificiais provenientes das nossas casas causam a colisão de 976 milhões de pássaros contra janelas, durante a noite, todos os anos.

A grande barreira de corais da Austrália, responsável pela reciclagem de grande parte do carbono que causa poluição atmosférica, com mais de 400 espécies de corais do qual dependem 65% dos peixes, não se consegue manter no seu normal funcionamento com a presença de luz noturna artificial.

A iluminação das praias deixa os ovos, já muito suscetíveis a predadores e tráfico, expostos a estes perigos. Estima-se que entre 1992 e 2013 se tenham perdido 3.86 ninhos de tartarugas por cada unidade de luz acrescentada. Estes exemplos específicos são muito frequentes noutras espécies que, por causa da luz noturna, alteram o seu comportamento e ritmo circadiano, alterações hormonais e do ciclo reprodutivo, confusão na orientação e migração, predação.

Também as plantas e respetivos polinizadores são implicados. O fornecimento de luz anormal faz com que plantas não floresçam quando devem, ou morram prematuramente – comprometendo florestas e bosques e o equilíbrio do ecossistema.

Os humanos são igualmente afetados. Alterações na luz provocam problemas de sono (libertação da hormona melatonina é maior no escuro) e podem fazer surgir outras patologias relacionadas com a alteração do ritmo normal do corpo – como diabetes e outras doenças cardiovasculares. Somos afetados ainda pelos aparelhos eletrónicos antes de ir dormir, tornando-se um ciclo vicioso no dia-a-dia.

Portugal é o pior país da europa no que toca à poluição luminosa.

São medidas para este problema blackouts, estores e portadas nas janelas; sensores de movimento para candeeiros de rua, desligar as luzes e aparelhos o máximo possível, bem como a troca do tipo de lâmpadas. A ONG WWF criou em 2007 um movimento contra o aquecimento global chamado “Earth Hour”, onde todos os anos milhões de pessoas são convidadas a desligar as suas luzes durante 1h, para o bem da natureza. A próxima Earth Hour será no dia 26 de Março 2022 às 20h30.

Escrito por Teresa Pinho 14ºC.

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